A palavra “tutor” significava originalmente guarda, defensor, protetor, curador[1]. Em Portugal, a palavra tutela está historicamente associada a crianças e jovens que, por razões diversas, estão privados de ser educados pelos pais.
Recentemente, “tutor” veio recuperar uma nova forma, desta vez ligada à educação formal. O Ministério da Educação criou no ano passado, a medida de “apoio tutorial específico”[2] para promover o sucesso educativo junto de alunos do ensino básico com várias retenções. Prevê-se assim que o professor-tutor acompanhe e apoie os alunos, de uma forma mais personalizada, com vista a promover o seu sucesso e integração na escola.
Qual a principal vantagem da tutoria?
A tutoria constitui uma oportunidade única para o professor construir uma relação de confiança com jovens que já desinvestiram da escola e, em grande medida, de si próprios também. Esta relação, se for nutrida de forma intencional e com cuidado, pode ser o ponto de partida para a reintegração escolar destes alunos.
O poder das relações na aprendizagem é imenso, diz o bom senso e diz a ciência. As relações de confiança entre professor e aluno são a base do processo conjunto de ensino-aprendizagem[3]. A este respeito, Nicholas Hobbs[3], um proeminente psicólogo, afirma: “A confiança entre a criança e o adulto é essencial, é (…) o que dá consistência ao ensino e aprendizagem em conjunto, o ponto de partida da reeducação”.
Portanto, antes de começar a desenvolver qualquer tipo de trabalho mais cognitivo (vou deixar isso para o post da próxima semana), o professor-tutor deve preocupar-se em devolver ao aluno a confiança no professor enquanto adulto; deve faze-lo re-acreditar que “os adultos podem ser considerados como uma fonte de suporte, compreensão e afeto”[3]. E é curioso como isto se liga ao significado original de “tutor”.
Como faze-lo?
Nicholas Hobbs deixa a seguinte sugestão: “Nenhuma formação profissional pode tornar um adulto merecedor da verdade e da confiança de um jovem, por isso é necessário acreditarmos que para confiarem em nós temos que, em alguma medida, confiar no jovem.”
O professor que decida assumir a função de tutor deve refletir, de forma honesta sobre se é capaz de confiar no aluno, independentemente do ponto de partida:
– Confio neste jovem enquanto ser em desenvolvimento, pleno de potencialidades por concretizar?
– Sou capaz de identificar as suas capacidades e interesses?
– Acredito no seu futuro?
Ser tutor é também frustrar pelo caminho. Muitas vezes. Tudo bem, faz parte do processo. Mas se no fundo, não conseguirmos confiar no jovem, então é preferível não assumir a função de tutor, pois não lhe estamos a oferecer uma verdadeira oportunidade para ser bem-sucedido.
P.S.: Se é professor e lhe interessa o tema, vou dinamizar em Outubro e Novembro uma oficina sobre “Tutoria em meio escolar” (gratuita), em Lisboa. Para mais informação, clique aqui.
Ilustração de Ricardo Rodrigues
Referências:
[1] Dicionário Eletrónico Houaiss
[2] DN nº4-A/2016, artigo 12º
[3] Hobbs, N. (1994). The troubled and troubling child. 2ª Edição, Cleveland, OH: American Re-Education Association.
Interessante.
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